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Manual Relâmpago para Oneshots

 

Olá, meu nome é Wagner Elias e sou profissional dos quadrinhos com mais de 15 anos de experiência na área. Sou autor de obras como Escarra Brasa, Divisão 5 e Colatino Caça Tretas. Durante todo esse tempo, trabalhando em diversos projetos, eu percebi que muitos artistas iniciantes têm dificuldades em criar histórias curtas, ou oneshots, como são conhecidas.

A verdade é que essa dificuldade não é surpreendente afinal, em um número limitado de páginas, é preciso apresentar uma história completa com início, meio e fim, além de personagens bem desenvolvidos e um enredo envolvente. Porém, é justamente essa limitação que torna a criação de oneshots tão interessante e desafiadora.

Por isso, decidi criar este manual para ajudar esses artistas a desenvolverem suas ideias e transformá-las em histórias de sucesso. Eu estou animado em poder compartilhar um pouco do que aprendi ao longo da minha carreira, desde a construção de personagens até o desenvolvimento do roteiro.

Mas lembre-se: este material que agora compartilho com você é apenas uma metodologia que desenvolvi ao longo dos anos trabalhando na área dos quadrinhos. Existem diversas outras que podem ser usadas na criação de oneshots, e é preciso que você estude e pesquise sobre elas para encontrar a que melhor se adequa ao seu estilo de trabalho.

O mais importante é que você desenvolva seu próprio método e sua própria abordagem para criar histórias curtas. A prática é a melhor forma de aprimorar suas habilidades de roteirização, então não tenha medo de experimentar e testar diferentes técnicas até encontrar aquelas que funcionam melhor para você.

 

As imagens usadas neste manual são todas de propriedade do estúdio e são partes de obras produzidas por nós. Se você quiser ter acesso a elas, acesse o nosso site: https://gibitales.wixsite.com/gibitales ou pelo Qrcode:

 


Se você está lendo esse manual, é porque, assim como eu, é apaixonado por mangás e quer aprender a criar seus próprios oneshots. E é justamente isso que eu vou ensinar para você! Ao longo dos próximos capítulos, vou apresentar 7 etapas simples, mas cruciais, para que você possa desenvolver um oneshot incrível, desde a definição da ideia até a escrita do roteiro detalhado. Tudo isso de forma clara, direta e descomplicada! Então, vamos nessa?

 

01

Defina a ideia

“Uma boa ideia pode se transformar em uma péssima história se não for bem contada.”


A etapa de definição da ideia é uma das mais importantes no processo de criação de uma história curta. É essencial que você tenha uma ideia objetiva e clara, que possa ser resumida em uma única frase, que podemos chamar também de “assunto”, conforme definido por Syd Field em seu livro Manual do Roteiro. O autor define “assunto” como a declaração geral do que a história se trata, e essa declaração deve ser específica e objetiva. Em resumo podemos ter a seguinte fórmula:

Quem é o personagem + o que acontece com ele + qual seu objetivo = IDEIA.


Por exemplo, em Egoman – O Inofendível Herói, temos uma ideia bastante simples:

Douglas Santos, um garoto comum, tem sua vida mudada quando ganha o poder de ser imune a qualquer tipo de ofensas. Agora ele vai passar a defender as pessoas contra os insultos da vida sob a identidade do herói Egoman.

Temos aí o personagem, o que acontece com ele e qual seu objetivo. Pronto, uma ideia.

 

 

 

 

 

 

Definir a ideia é importante porque ela vai nortear toda a sua história. É a partir dela que você desenvolverá a trama, os personagens e os conflitos! Além disso, uma ideia bem definida ajuda a evitar a dispersão da história e a manter o foco na ideia central.

02

Concepção dos Personagens

 

“O personagem é a alma da história.”


 

Pode-se dizer que o personagem é a alma da história, afinal é ele quem vai guiar o leitor no decorrer das páginas. Se o personagem não desperta o interesse de quem está lendo, as chances de a pessoa abandonar a obra serão altíssimas!

Para criar personagens interessantes, é importante fazer perguntas que ajudem a definir sua gênese. Quem é esse personagem? Qual é a sua história de vida? Quais são seus desejos e medos? Como ele se relaciona com os outros personagens da trama?

A resposta a essas perguntas ajuda a dar forma ao personagem, tornando-o mais realista e convincente. Lembre-se de que o objetivo aqui não é criar uma biografia completa para cada personagem, mas sim dar a eles uma certa profundidade que ajude a engajar o leitor na história.

 

 

 

 

Para um oneshot, é importante limitar o número de personagens para que a história possa ser desenvolvida de forma eficiente. Foque em criar personagens que sejam essenciais para a trama e que possam contribuir para o desenvolvimento da ideia central. Mesmo que seja necessária a presença de vários personagens, escolha apenas 1 ou 2 para dar maior atenção. Assim, você não corre o risco de deixar o enredo inflado e desinteressante.

 

 03

Desenvolva a História

“Tudo começa pelo esboço.”


 

Após definir a ideia central da história, é hora de começar a desenvolvê-la. É nesta etapa que o autor tem a oportunidade de explorar todas as possibilidades da e deixar a imaginação fluir sem muitos critérios.

Durante o desenvolvimento, é preciso que o autor escreva sem muita preocupação com a qualidade do texto ou com as limitações do formato escolhido. É como uma espécie de "brainstorming" onde você vai incluir todas as ideias que vierem à mente sem julgamentos nem restrições, de modo que o autor se permita errar, escrever excessivamente ou até mesmo mudar completamente a direção dos acontecimentos. Isso vai ajudar a expandir o universo da obra, explorar os temas propostos e desenvolver nuances que aprofundem a experiência do leitor.

A flexibilidade proporcionada nessa etapa permite ao autor corrigir erros, ajustar o ritmo narrativo e até mesmo mudar a direção que a história está tomando, caso seja necessário. Essa liberdade criativa é valiosa, pois muitas vezes é durante esse estágio que surgem as melhores ideias, reviravoltas surpreendentes e momentos marcantes que definem a identidade da obra.

 

Com um texto bem desenvolvido e repleto de ideias interessantes, você terá muito mais facilidade para lapidar seu roteiro e transformar sua história em um verdadeiro sucesso!

 

Veja abaixo as diferenças entre o esboço e a página final. A quantidade de quadros, os ângulos de cenas, as poses dos personagens... Assim é a fase de desenvolvimento da história, um rascunho inicial que será aperfeiçoado nas etapas seguintes.

 


04

Pesquise

“A qualidade da sua história é proporcional ao conhecimento que você tem sobre o assunto.”

 

 


 

Durante o desenvolvimento do seu oneshot é comum que surjam dúvidas sobre elementos que estão presentes na trama, sobre os quais o autor tem pouco ou nenhum conhecimento. Caso seu oneshot envolva cenários históricos, culturas específicas, profissões, etc. você vai querer evitar erros e imprecisões que possam distrair ou desapontar os leitores! Por isso é essencial fazer uma pesquisa para garantir que esses elementos estejam bem fundamentados e tragam credibilidade para a história.

 

 Por exemplo, talvez você precise pesquisar sobre o funcionamento de uma entidade pública como a polícia federal, ou os processos envolvidos em uma audiência judicial, ou ainda como é a rotina de uma banda de rock. Enfim, qualquer coisa que vá aparecer na história e você não tem conhecimento suficiente a respeito, pesquise.

 

É claro que alguns autores preferem criar seus próprios mundos onde é possível maior liberdade criativa e menos compromisso com a realidade. Mesmo assim será preciso se basear no mundo real para criar o seu próprio – a pesquisa continua importante.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ao escrever Divisão 5 (oneshot), o Rafa Santos precisava retratar organizações secretas fictícias, mas ele precisou pesquisar sobre organizações secretas reais e teorias da conspiração para criar o seu próprio universo de mistérios.

 

Além disso, a pesquisa também pode ser útil para inspirar novas ideias e ajudar a desenvolver elementos da trama que ainda não estão bem definidos. Ela amplia seu conhecimento e pode desencadear sua criatividade, permitindo que você crie tramas e personagens mais interessantes! Por isso, não deixe de dedicar um tempo para essa etapa importante da criação de um oneshot.

 

05

Argumento

“Um bom roteiro precisa ser bem lapidado.”

O argumento é a etapa final antes da escrita do roteiro, onde o autor organiza todas as ideias que desenvolveu até agora e as coloca em um formato estruturado. É a partir do argumento que a história começa a ganhar uma forma mais concreta.

 

Ao escrever o argumento, é importante manter em mente a estrutura da narrativa, que deve ser clara e objetiva. O argumento é uma espécie de esboço da história, onde são definidos os principais eventos e momentos da trama, mas ainda sem muitos detalhes.

 

Essa etapa é fundamental para que o autor possa identificar possíveis falhas e fazer ajustes antes de escrever o roteiro final. Além disso, o argumento também é uma forma de apresentar seu trabalho a outros profissionais, como desenhistas e editores, para que eles possam compreender melhor a trama e ajudar na criação da obra.

 

Para escrever um bom argumento, o autor deve se basear nas ideias que desenvolveu durante as etapas anteriores e estruturá-las de forma coerente e clara. Nessa fase, o autor deve ter bem definido o seu objetivo com essa obra. Qual o gênero? Qual público pretendo atingir? Que tipo de mensagem pretendo passar? Essa ideia já foi feita antes? Como posso acrescentar algo de novo? É preciso ter em mente que, mesmo no argumento, é necessário já ter uma visão clara do desfecho da história, pois isso ajudará a guiar a escrita do roteiro final.

 

Mas lembre-se, nessa etapa você precisa ser desapegado e fazer os cortes necessários, sem ter pena de retirar personagens ou elementos que não sejam essenciais para a trama. Afinal, em um oneshot, o espaço é limitado e cada elemento precisa ser utilizado de forma estratégica.

Trecho do primeiro texto escrito para Escarra Brasa, o Cangaceiro Gentil - Emboscadas

Página de Escarra Brasa, o Cangaceiro Gentil - Emboscadas

 Na fase de desenvolvimento dessa história tínhamos uma comunidade de nativos habitando a cidade das emboscadas. Já no argumento percebemos que havia personagens demais e, por isso, tivemos que reduzir a apenas um para que coubesse na trama sem sobrecarregar as páginas.

06

Estrutura Narrativa

“Sem uma boa estrutura nada se sustenta.”

 

 

 

Escolher a estrutura narrativa antes de começar a escrever é fundamental, mesmo em uma história curta. Essa etapa é importante pois é o que ajudará o autor a organizar os acontecimentos do enredo. Existem diversas estruturas narrativas e cada uma delas tem suas particularidades e pode ser mais adequada para diferentes gêneros.

 

No entanto, neste manual, apresentarei a estrutura narrativa que eu utilizo em meus mangás. É uma estrutura simplificada que vai ajudar você em seus primeiros passos, mas nada impede que você continue estudando outras estruturas narrativas a fim de aperfeiçoar sua escrita. Dito isto, vamos à ação!


 

 

 

ESTRUTURA NARRATIVA RELÂMPAGO!

 

 

1.                 Apresentação do personagem: Nesta fase, apresente o protagonista da história e dê algumas informações básicas sobre ele. Explique quem é, o que faz, suas motivações, medos e desejos. É importante que o leitor se identifique com o personagem para que a história tenha um impacto emocional mais forte.

 

2. Quebra do cotidiano: Tire o personagem do seu cotidiano colocando-o em uma situação anormal. É nessa etapa que você vai definir qual o objetivo do protagonista dentro da história contada. E esse objetivo estará diretamente ligado a um acontecimento incomum que tirará o personagem de sua rotina habitual. Por exemplo: Em Cellatrix, o protagonista leva uma vida normal quando, de repente, recebe um chip de celular com propriedades incríveis que viram sua vida do avesso. Seu objetivo agora é conseguir pontos em jogos arriscados para cancelar o plano e voltar à sua vida normal.

 

3. Conflito: O conflito é a principal fonte de tensão na história. É o que impede o personagem de alcançar seu objetivo. O conflito não vai, necessariamente, representar o mal, mas é apenas o obstáculo que estará entre o protagonista e seu objetivo. Por exemplo, em Star Trash os protagonistas são alienígenas que estão tentando invadir a Terra, mas todas as excentricidades do carnaval carioca põem-se como obstáculos para esse objetivo.

 

4. Clímax: O clímax é o ponto mais alto da história, onde o conflito atinge seu ápice. É o momento em que o personagem toma uma decisão crucial ou enfrenta seu maior desafio. O clímax deve ser emocionante e impactante para o leitor. É o momento em que parece que o protagonista não terá mais saída e tudo parece perdido. Em Escarra Brasa (oneshot) o clímax acontece quando a gangue dos óculos escuros descobre a fraqueza do protagonista e o deixam encurralado. Nesse momento o leitor está tenso sem saber como o personagem vai sair dessa situação.

 

5. Plot twist: é um elemento surpresa que acontece próximo ao final da história. É uma reviravolta que muda completamente o rumo da trama. Pode ser uma revelação sobre o passado do personagem, uma mudança repentina de perspectiva ou uma virada na trama que ninguém esperava. Mas cuidado, não force a barra. Um acontecimento inesperado precisa ter relação com a história que está sendo contada, do contrário, parecerá que o autor se perdeu na narrativa.

 

6.
Resolução: A resolução é o desfecho da trama. É o momento em que o conflito é resolvido e o personagem alcança seu objetivo ou aprende uma lição importante. A resolução não precisa ser, necessariamente positiva, mas ela deve fechar a história de forma completa. O protagonista conseguiu escapar da polícia ou morreu tentando? Impediu que o assassino matasse a criança ou falhou na missão? O vírus foi erradicado ou a população da Terra foi extinta? O estudante passou no vestibular ou desistiu de tentar e abriu uma loja de doces? O final não precisa ser favorável ao protagonista, mas precisa ser satisfatório para o leitor.

 


07

Construindo o Roteiro

 

“Um roteiro bem escrito pode ser determinante para o sucesso da história.”

 


Finalmente chegou o momento de escrever o roteiro! Com o argumento definido, você tem um mapa que vai guiá-lo na construção de um bom roteiro. Em termos práticos, o argumento apresenta o que acontecerá na história. Já o roteiro descreve detalhadamente como isso acontecerá.

Ex:

Trecho de argumento:

O grupo caminha pelas ruas vazias enquanto um barulho de multidão (festa carnavalesca) ecoa pelo ar. Os membros da equipe conversam entre si, especulando sobre os motivos de a cidade estar aparentemente deserta. Enquanto conversam, são surpreendidos com algo ameaçador que surge em sua frente.

 

Perceba que nesse trecho você consegue saber o que vai acontecer, e até tem alguns detalhes da cena, mas são detalhes ainda rasos.

 


 

Note abaixo a mesma cena, mas desta vez, descrita no roteiro:

 

Pag. 1

- Quadros 1-3 – Mostrar aspectos diferentes das ruas da cidade. As ruas estão vazias e tranquilas. Um barulho ecoa no ar. É o som de uma multidão em festa de carnaval (lalaia ou algo assim).

 

- Quadro 4- Visão aérea. Panorâmica.

O grupo está reunido em uma rua larga e totalmente vazia. Eles parecem estar se encontrando após terem feito um breve patrulhamento nos arredores.

Ebzo- caminhamos todo esse tempo sem encontrar qualquer forma de vida humana! Onde eles estão? E que barulho é esse?

Príncipe Nuki- o que tem a dizer sobre isso, mordav?

Mordav- a probabilidade de ser uma emboscada deles é quase nula, senhor. Eu cuidei pessoalmente disso.

 

- Quadro 5- Plano americano. Mordav continua sua fala com um ar de autoridade, como quem sabe o que está falando.

Mordav- não há forma alguma de termos sido detectados, pois o sistema foi...

- Quadro 6- Mostrar os outros 4 membros da equipe assustados.

 

- Quadro 7- Close em Mordav. Ele esboça um sorriso insosso e meio confuso.

Mordav- tão me olhando assim por quê?

 

Veja que o roteiro é bem mais descritivo e minucioso. A escrita do roteiro deve ser bem detalhada, especialmente se o autor pretende que outro artista o desenhe. Ao contrário da etapa de argumento, onde o autor pode deixar a imaginação fluir, no roteiro o objetivo é passar para o desenhista exatamente o que precisa ser desenhado, de forma prática e detalhada.

Portanto, o autor deve ser o mais objetivo e claro possível, descrevendo cada quadro, enquadramento, balão de diálogo e ações dos personagens. Dessa forma, o desenhista terá um material consistente para trabalhar e o resultado será uma história bem amarrada e visualmente coerente.

Chegamos ao final deste manual, e espero que você tenha gostado das dicas e técnicas que compartilhei aqui para ajudá-lo a criar histórias curtas e marcantes. O objetivo deste guia é ajudar você a desenvolver suas habilidades de roteirização, para que você possa criar histórias que encantem seus leitores e deixem uma marca duradoura.

Lembre-se sempre de que criar histórias é uma jornada criativa e pessoal, e que a prática e a persistência são fundamentais para aprimorar suas habilidades de roteirização. Não tenha medo de experimentar e testar diferentes técnicas e abordagens, e nunca pare de aprender e se desenvolver como escritor.

Com as técnicas e sugestões apresentadas neste manual, você tem todas as ferramentas necessárias para criar histórias curtas e envolventes, mas o sucesso depende principalmente da sua dedicação e paixão pelo que faz. Então, mãos à obra! Pegue sua caneta e seu papel, ou seu software de escrita favorito, e comece a criar suas próprias histórias.

Tenho certeza de que, com a prática e a dedicação, você vai se tornar um roteirista cada vez mais habilidoso, capaz de criar histórias cativantes e inesquecíveis. Então, não deixe a oportunidade passar, e comece agora mesmo a produzir seus próprios oneshots!

Desejo a você todo o sucesso em sua jornada criativa, e que suas histórias sejam capazes de inspirar e encantar seus leitores. Obrigado por acompanhar este manual, e até a próxima!




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